quinta-feira, 23 de setembro de 2010

NUTRIÇÃO E DIETA NAS CORONARIOPATIAS


A nutrição adequada definitivamente pode alterar a incidência e a gravidade das coronariopatias. A American Heart Association enfatiza o consumo de vegetais, frutas e grãos integrais, confirmando a importância das fibras alimentares, antioxidantes e outras substâncias na prevenção e controle das DCV. Recomenda ainda a manutenção de peso saudável, auxiliado pela atividade física regular e consumo moderado de gorduras.

Fatores dietéticos importantes nas Doenças Cardiovasculares (DCV)

Lipídios — Embora ainda existam controvérsias, a redução de lipídios para no máximo 30% do valor calórico total já resulta em benefícios no controle dos fatores de risco das DCV. O mais importante é a qualidade dos lipídeos consumidos. Os lipídios que mais contribuem para o aumento da LDL-colesterol (ruim) são os ácidos graxos saturados, os ácidos graxos trans, e, em menor extensão, o colesterol dietético.

Gorduras saturadas — A gordura saturada é a principal causa alimentar de elevação de colesterol plasmático, pois inibe a remoção das partículas de LDL-c do sangue, permitindo, além disso, maior entrada de colesterol nas partículas de LDL-c. Os ácidos graxos saturados estão presentes principalmente na gordura animal (carnes gordurosas, leite integral e derivados), polpa de coco e alguns óleos vegetais (dendê e coco).

Ácidos graxos trans — Estão presentes naturalmente em baixas quantidades em algumas carnes e laticínios gordurosos, como um resultado da fermentação bacteriana em animais ruminantes. Mas ocorrem principalmente nos alimentos industrializados, (margarinas, biscoitos, bolos, pães, pastéis, batatas chips e sorvetes cremosos)12. A hidrogenação dos ácidos graxos poliinsaturados é um processo que modifica a consistência do óleo, tornando-o mais "sólido". A gordura vegetal hidrogenada, rica em ácidos graxos trans provoca o aumento da colesterolemia, elevando o LDL-c (ruim) e reduzindo o HDL-colesterol (HDL-c) (bom) de forma similar à das gorduras saturadas.

Colesterol dietético — Encontrado somente em alimentos de origem animal, o colesterol dietético, embora eleve as concentrações sanguíneas de LDL-c, possui menor efeito sobre a colesterolemia, quando comparado com a gordura saturada. Para reduzir sua ingestão, deve-se restringir o consumo de vísceras, frutos do mar, gema de ovo, pele de aves, embutidos e frios.

Ácidos graxos monoinsaturados — Encontrados no azeite, óleo de canola, azeitonas, avelã, amêndoa e abacate, as gorduras monoinsaturadas são mais resistentes ao estresse oxidativo e uma dieta rica nestes ácidos graxos faz com que as partículas de LDL-c fiquem enriquecidas com eles, tornando-as menos suscetíveis à oxidação. Na substituição de gorduras saturadas por monoinsaturadas, as concentrações de colesterol total são reduzidas e as de HDL-c possivelmente aumentadas.

Ômega-6 e ômega-3 — As gorduras poliinsaturadas subdividem-se em ácidos graxos ômega-6 e ômega-3. Os ômega-6 são encontrados em óleos vegetais como o de milho e soja, e, embora não prejudiciais, são mais suscetíveis à oxidação3 e talvez reduzam as concentrações da HDL-c. Os ômega-3 reduzem os triglicerídeos séricos, melhoram a função plaquetária e promovem ligeira redução na pressão arterial (PA) em pacientes hipertensos, sendo encontrados principalmente nos óleos de peixes de águas frias e profundas como o salmão, arenque, atum e sardinhas.
Frutos oleaginosos — As castanhas, amêndoas, avelãs, pistácios, nozes são importantes fontes de lipídeos essenciais. Seu consumo freqüente está associado a risco reduzido de doenças coronarianas. 60% das suas calorias são compostas por ácidos graxos monoinsaturados, o que auxilia a redução do colesterol total e da LDL-c, sem, no entanto, reduzir a HDL-c.

Fitosteróis — Acredita-se que competem com o colesterol no momento da absorção intestinal, reduzindo, portanto, a concentração plasmática deste. A ingestão de 3 a 4g/dia destes promove a redução da LDL-c ao redor de 10% a 15% em média, ainda que não influencie as concentrações séricas de HDL-c e de triglicerídeos. As principais fontes de fitosteróis são alimentos de origem vegetal como nozes, semente de girassol, soja, canola, trigo, milho, feijões, abacate, legumes e verduras.Embora os resultados do uso das margarinas enriquecidas com fitosteróis sejam promissores, são necessários mais estudos que comprovem a eficácia desse efeito, assim como a adesão ao consumo de alimentos enriquecidos com fitosteróis.

Sal — A influência do cloreto de sódio (NaCl) na pressão arterial aumenta com a idade, e, no caso de indivíduos com pressão arterial normal, com o histórico familiar de HAS. Embora presente naturalmente em diversos alimentos, em quantidades que atendem às recomendações humanas, a maior parte do sódio da dieta é proveniente dos compostos sódicos adicionados no processamento dos alimentos ou, em menor escala, do sal de mesa. A American Heart Association recomenda que os indivíduos não consumam mais que 2.400mg de sódio por dia, que equivaleria a 6g ou a 1 ½ colher de chá de sal de mesa. No entanto, deve-se levar em consideração o alto teor de sódio adicionado aos alimentos industrializados, assim como aos diversos medicamentos.

Álcool — Ainda que possam existir controvérsias, acredita-se que o consumo de quantidades moderadas de álcool tenha efeito protetor nas coronariopatias, através do aumento da HDL-c e redução do fibrinogênio. No entanto, o consumo de mais de três drinks diários vem sendo relacionado a inúmeros efeitos adversos relacionados às DCV, como arritmia, hipertensão arterial, derrame hemorrágico e morte súbita. A American Heart Association sugere para limitar o consumo de álcool a um drink diário para mulheres e dois drinks diários para homens. Um drink corresponde a 14g de álcool e pode ser definido como uma lata de cerveja, ou um copo de vinho (120ml).

Fibras alimentares — Existem dois tipos de fibras alimentares: as solúveis encontradas nos legumes, aveia, leguminosas (feijão, ervilha, lentilha) e frutas, particularmente as cítricas e maçã; e as insolúveis, presentes nos derivados de grãos inteiros, como os farelos, e também nas verduras. Grande parte dos benefícios diretos nas DCV estão relacionados às fibras solúveis, como a redução nas contrações séricas da LDL-c, melhor tolerância à glicose e controle do diabetes tipo 2. As fibras alimentares também são conhecidas como coadjuvantes no controle do sobrepeso, devido à sensação de saciedade que promovem.

Antioxidantes — A lesão oxidativa dos lipídios nas paredes dos vasos sanguíneos parece ser um fator decisivo no desenvolvimento da aterosclerose, já que a oxidação da LDL-c a transforma numa partícula reativa potencialmente letal para as artérias. Os antioxidantes aumentam a resistência da LDL-c à oxidação e vêm sendo associados com a redução de risco para coronariopatias. Os principais antioxidantes são a vitamina E, pigmentos carotenóides, a vitamina C, flavonóides e outros compostos fenólicos.

Vitamina E — Dados experimentais vêm indicando que a vitamina E tem o efeito mais significante dos antioxidantes na prevenção das coronariopatias, através da inibição da oxidação da LDL-c. Porém, acredita-se que a quantidade de medicamentos ingerida pelos participantes portadores de DCV pode obscurecer os verdadeiros efeitos da vitamina E. As fontes mais abundantes de vitamina E são óleos vegetais como os de girassol, palma, milho, soja e oliva. Outros alimentos ricos em vitamina E incluem nozes, semente de girassol, kiwi e germe de trigo.

Pigmentos carotenóides — Existem aproximadamente 600 carotenóides nos alimentos e os principais são o betacaroteno, licopeno, glutationa, quercetina e luteína, que têm função antioxidante.
As melhores fontes de beta-caroteno são os vegetais e frutas de forte tom amarelo/laranja e os vegetais de folhas verde escuras:
* Vegetais amarelos/laranja – cenouras, batatas-doces, abóboras.
* Frutas amarelo/laranja – melões, papaias, mangas, carambolas, nectarinas, pêssegos
* Vegetais de folhas verde escuras – espinafres, brócolis, endívias, couve, chicória, escarola, agriões.
As melhores fontes de licopeno são frutas de cor avermelhada como tomate, melancia, goiaba, etc.
Exemplos de alimentos ricos em quercetina: cebola roxa, maçã, chá verde, romã, brócolis, frutas vermelhas, acelga, pimenta verde, uva, vinho tinto.

Vitamina C ou ácido ascórbico — Acredita-se que o ácido ascórbico proteja contra a peroxidação lipídica de duas formas: diretamente, eliminando os radicais peróxido antes que eles iniciem a peroxidação lipídica e indiretamente, regenerando a forma ativa da vitamina E e outros antioxidantes como os flavonóides e a glutationa, para que estes exerçam seu potencial antioxidante. Além disso, o ácido ascórbico parece interferir sobre outros fatores relacionados ao risco cardiovascular, como integridade do tecido vascular, tônus vascular, metabolismo lipídico e pressão arterial. Além disso, parece exercer efeito vasodilatador.

Flavonóides — São um potente grupo de antioxidantes que ocorrem naturalmente em frutas frescas (especialmente laranja, morango, jabuticaba e uva rosada), vegetais (especialmente alho, cebola roxa, repolho roxo, berinjela, batata-doce e soja), nos chás e nos vinhos tintos. Os vegetais contêm muitos compostos fenólicos, dentre eles, os flavonóides, que inibem a peroxidação lipídica. Os flavonóides das frutas e vegetais têm extensivas propriedades biológicas que possivelmente reduzem o risco para DCV, através de ação antioxidante na LDL-c e modesta atividade antiplaquetária e antiinflamatória. Acredita-se ainda que alguns compostos fenólicos possam ter ação hipocolesterolêmica mediada por redução na absorção de colesterol no intestino e aumento na excreção de ácidos biliares.

Soja e outros grãos integrais — Apresenta potencial efeito redutor do colesterol, especialmente em indivíduos hipercolesterolêmicos. Na proteína de soja, as isoflavonas são as substâncias que vêm atraindo maior atenção, por seus efeitos benéficos nos lipídios do sangue, assim como por seus efeitos estrogênicos.

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